quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Encontro do NEPALS


Por IFF São Vicente do Sul

Encontro do NEPALS busca fortalecer as ações extensionistas.


Nos dias 26 e 27 de agosto, quinta e sexta-feira, acontece, no Instituto Federal Farroupilha – Campus São Vicente do Sul e Campus Avançado Jaguari, o I Encontro do Núcleo de Estudos e Extensão sobre Alimentação e Sociedade (NEPALS), que, além de divulgar a produção realizada pelo Núcleo, tem o objetivo de constituir novas parceiras para futuras ações de pesquisa e extensão e definir convergências temáticas que apontem para futuras ações coletivas e interinstitucionais.

Na ocasião, serão debatidas temáticas como espaço agrário, qualidade das águas, microbacias, assentamento de reforma agrária, produção orgânica, agroindústrias familiares rurais, desenvolvimento territorial e construção dos mercados.

O NEPALS é formado por estudantes, pesquisadores e docentes da Universidade Federal de Santa Maria, bem como de egressos da área da Sociologia e da Extensão Rural. Além de desenvolver pesquisas, seu trabalho volta-se à busca de uma ação extensionista comprometida com a consolidação de agroindústrias, qualidade de alimentos, organização social das famílias e viabilidade socioeconômica desses empreendimentos.

O Instituto Federal Farroupilha – Campus de São Vicente do Sul insere-se nessa temática através de um conjunto de ações que vem desenvolvendo em conjunto com esse grupo no que tange a trabalhos em torno da mesma temática. No ano de 2009, foi realizado o I Seminário de Agroindústrias Familiares Rurais e dado início ao Diagnóstico Sócio-Econômico de Jaguari. Essas iniciativas potencializam o aporte de capital humano na região e propicia interação entre docentes, pesquisadores e discentes das diferentes instituições. Os interessados em participar podem ligar para o telefone (55) 3257-1114, falar com o professor Gustavo Pinto da Silva, na Diretoria de Extensão ou mandar e-mail para extensao@svs.iffarroupilha.edu.br ou nucleo.nepals@gmail.com.


Para saber mais da programação acesse o site o IFF


terça-feira, 22 de junho de 2010

Alimentação contemporânea

O que escolhemos para comer diz muito sobre quem somos, sobre nossa posição social e sobre nossas preferências estéticas, afirma Rafinha Bastos (CQC) no programa que vai ao ar às 22 horas do dia 22 de Junho de 2010 na Band. O programa denominado “A liga” fala um pouco sobre a alimentação no mundo contemporâneo.


Michel Pollan autor de um dos cinco melhores livros de não-ficção em 2007 pela The New York Times replica uma frase famosa de Wendell Berry que diz: “Comer é um ato agrícola”. Pollan ainda complementa, é também um ato ecológico, além de um ato político.


Entre essas e outras, Pollan começou sua investigação que Resultou no Livro “O Dilema do Onívoro” com tal interrogação: “O que devo comer?” ou ainda “ O que estou comendo?” e “de onde isso veio?”.


Na página 25 de seu livro adverte: Há muito tempo, um comedor não precisaria de um jornalista para responder a essas perguntas. O fato de hoje em dia recorrerem a ele com tanta freqüência oferece um ótimo ponto de partida para chegar a uma definição de comida industrial: toda comida cuja proveniência é tão complexa e obscura que exige e ajuda de um especialista para determinar de onde ela veio.


Entre comer e viver. Assistam.

domingo, 13 de junho de 2010

Nepals em ação: o Programa Somar

Já com 01 ano e 03 meses, o Nepals tem construído uma ação extensionista comprometida com a consolidação de agroindústrias, qualidade de alimentos, organização social das famílias e viabilidade socioeconômica das propostas, através da assessoria ao Programa Terra Sol, do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), no Rio Grande do Sul.

O trabalho se construiu a partir do reconhecimento do INCRA-RS da experiência e conhecimento na área de agroindústria por parte do Prof. Dr. Paulo Roberto Cardoso da Silveira, idealizador e coordenador do Programa Somar.

Desde 2009, a Equipe Somar vem atuando junto a grupos de assentamentos rurais, através de metodologia desenvolvida no cerne do Programa, com intuito de construir um processo de organização social, com participação ativa de todos os atores envolvidos com a viabilização socioeconômica dos empreendimentos, ou seja, desde famílias assentadas até gestores do INCRA.

Esse processo vem se constituindo como uma experiência promissora e com grande espaço para reflexão e debate, seja pelo papel dos assentamentos, da agroindustrialização em assentamentos rurais, do alimento, da desconexão com a agri-cultura, da concepção ambiental, da qualidade dos alimentos, da construção via uma lógica de validação social, da gestão e do planejamento, dentre outros tantos. Espaços para construir métodos e metodologias de intervenção, onde a participação, a democracia e a transparência das ações são ideais essenciais para buscar o caminho da gestão coletiva.

Dentre os métodos e metodologias, cabe destacar importancia que vem assumindo a formação e articulação dos Grupos de Trabalho, compostos por todos os atores sociais ao entorno do empreendimento, envolvidos direta ou indiretamente na consolidação do mesmo; os Grupos Gestores, que se refere ao coletivo que tomará a frente da gestão; as capacitações, nas áreas ambiental, sanitária, gestão e operação. Um leque de ações que corroboram preocupação com a processo de construção e em respeito aos momentos do coletivo-protagonista.

Por fim, estas e outras pautas estarão postas a mesa, para deliciar e inspirar o debate e a reflexão, nos dias 26 e 27 de agosto, durante o I Encontro sobre Alimentação e Sociedade, sob organização da Equipe Nepals.


Aline Weber Sulzbacher - Geógrafa, Mestre em Extensão Rural - Equipe Somar. Especialização em Agricultura Familiar Camponesa e Educação do Campo (UFSM-PRONERA). Consultora em desenvolvimento rural e agroindústria familiar >>email>> sulzba@gmail.com

sábado, 12 de junho de 2010

Slow Food: um movimento pela alimentação

O Slow Food iniciou pelos movimentos organizados em núcleos que defendem a biodiversidade, a pluralidade e o ato de alimentar-se. No seu site o Slow Food autodefine-se como uma associação internacional sem fins lucrativos fundada em 1989 como resposta aos efeitos padronizantes do fast food; ao ritmo frenético da vida atual; ao desaparecimento das tradições culinárias regionais; ao decrescente interesse das pessoas na sua alimentação, na procedência e sabor dos alimentos e em como nossa escolha alimentar pode afetar o mundo......

Para saber mais acesse: http://www.slowfoodbrasil.com/

sexta-feira, 5 de março de 2010

Os alimentos em sua geografia

Não quero aqui defender a criação de mais um segmento dentro do mundo, já tão amplo, de atuação dos Geógrafos. Mas hoje, me sinto na obrigação, como geógrafa, de trazer um tema para debate que poucas vezes é lembrado pelo mundo geográfico ou então, noutras tantas, passamos sempre pela tangente.

Gostaria de explorar um pouco o universo da alimentação, dos espaços de consumo, dos hábitos alimentares, da sociedade de consumo, dos produtos diferenciados, etc, etc, etc. O alimento, em seu processo de transformação, movimenta o mundo e a sociedade. Vivemos para produzir, para comprar, para transformar. A relação entre a sociedade e a natureza é mediada pela técnica e baseada na demanda por usos alimentares. A formação socioespacial que caracteriza cada civilização e sua cultura, está diretamente relacionada pelas formas com que se apropria da natureza e a transforma para garantir a sua reprodução social, ou seja, passamos mais uma vez pela discussão dos diferentes hábitos alimentares.

Enfim, a questão poderia ser expressa da seguinte forma: qual é a geografia da alimentação? Falo disso, pois para produzir qualquer alimento, faz-se necessário pensar todo circuito espacial de produção, definido e defendido por Milton Santos como um dos papéis dos geógrafos. Sem falar que, historicamente, a análise geográfica se preocupa com um espaço que é fruto da ação do homem sobre a natureza, isso resulta em tipos diferentes de ocupações que denominamos de formação sócioespacial, ou seja, cada sociedade tem uma forma diferenciada de se apropriar e re-construir seu espaço. A humanidade re-organiza e constrói espaço para que? Bom, uma das intenções sempre presentes é a da produção, e aí entra a alimentação como uma das primeiras necessidades básicas e que representa um dos principais saltos evolutivos, quando a humanidade consegue deixar de depender do alimento oferecido pela natureza tão somente, e consegue produzi-lo.

Portanto, a alimentação (ou mesmo a falta dela ou sua carência nutricional) é um tema cada vez mais pertinente ao mundo global. Se torna um eixo central quando se discute qualidade de vida e, para tal, o alimento, em muitos casos, já deixou de ser considerado apenas em seu aspecto quantitativo, mas também e, principalmente, qualitativo. E quando falamos em qualidade, não tratamos apenas dos seus aspectos nutricionais que são imprescendíveis, mas falamos também de seus adereços simbólicos, que constroem culturas, identidades, perspectivas, memórias. O alimento é um objeto de estudo por excelência. Não falo somente de sua relação com a sociedade, pois os sociólogos já vem explorando a questão. Falo de sua relação com o circuito de produção, com o planejamento, com a gestão do espaço, com escalas de poder de decisão, de sua relação com os glocalismos e os localizmos. Falo dos espaços de consumo e, principalmente, de produção. Aliás, os espaços de produção vem sendo delimitados conforme sua especificidade e as identidades geográficas vem para ratificar isso.

Cabe a nós, geógrafos e cientistas de todas as bandeiras, abraçar e olhar para essa causa! Ela nos desafia a pensar os novos tempos e, principalmente, a projetar ações concretas ainda mais quando estamos em débito com a natureza.


Aline Weber Sulzbacher
Geógrafa, Mestre em Extensão Rural
Consultora na área de desenvolvimento rural e agroindústria familiar

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Oficinas de artesanato em Capão do Cipó: Relato de Experiência

Introdução

O relato que segue é produto da experiência de extensionistas da UFSM, pertencentes ao grupo de trabalho NEPALS, vinculado ao departamento de Educação Agrícola e Extensão Rural, os quais se depararam com o desafio de organizar alternativas de ocupação, trabalho e renda para um grupo de mulheres assentadas, abordando o artesanato com papel jornal, como alternativa para esta realidade. Estas mulheres com faixa etária que varia entre 16 e 55 anos, são moradoras de quatro assentamentos da reforma agrária localizados em uma área continua de 3.846 hectares, a leste do município de Capão do Cipó, no Estado do Rio Grande do Sul. Estes assentamentos foram constituídos em períodos diferentes.
O primeiro grupo de assentados chegou a esta localidade com a instalação do Assentamento Federal Nova Santiago, onde foram assentadas 43 famílias em 18/02/1987, em uma área de 1000,57 ha. O segundo grupo veio com a instalação do Assentamento Federal Sepé Tiaraju, onde foram assentadas 25 famílias em 18/05/1992, em uma área de 480 hectares. O terceiro grupo veio para o Assentamento Federal 14 Julho, onde foram assentadas 32 famílias em 18/05/1992 uma área de 530 hectares. E o quarto e ultimo grupo veio com a instalação do Assentamento Estadual Nova Esperança, onde foram assentadas 100 famílias, em 11/ 12/ 2001, com uma área de 1830, 77 hectares. Todos estes grupos de assentados vieram de áreas consideradas de extrema pobreza rural.

Em todos os grupos que vieram para esta área estavam presentes um considerável numero de mulheres, quer como companheiras de futuro beneficiários da reforma agrária ou ainda como proprietárias de glebas de terras por sua participação no Movimento dos Sem Terra ( MST). Este contingente aumentou na medida em que as filhas e os filhos destes casais foram constituindo novas uniões e permanecendo na gleba. Ao longo de 20 anos de assentamento, as mulheres se constituíram em importante ferramenta para a produção e o desenvolvimento deste espaço agrário onde ainda enfrentam inúmeras dificuldades no campo social e econômico.

Desta forma, quando o autor principal era professor na escola do assentamento, levantou-se o seguinte questionamento: que alternativas de ocupação, trabalho e renda podem ser viáveis para estes grupos de mulheres assentadas?

Apresenta-se assim como objetivos deste trabalho: a) promover alternativas ocupacionais e de interatividade entre as mulheres assentadas; b) possibilitar a realização de atividade artesanal individual e em grupo; b) favorecer a adoção de praticas artesanais, como condição para a promoção de renda
Mulheres rurais e as relações com a terra

As relações das mulheres com a terra datam dos tempos mais remotos da historia da humanidade, a mulher ainda no período mesolítico (10000 – 7000 a.C), era considerada figura divina, representante da fertilidade, razão pela qual devia cultivar a terra pois, esta é aquela que alimenta, dá vida e não podia, portanto, ser cultivada por qualquer pessoa, mas, por aquela que tivesse boa relação com ela. Assim, somente a mulher tinha esta identificação, somente ela podia cultivar a terra, o que leva a crer então que as primeiras agricultoras foram as mulheres. HILÁRIO & CHACOM (1987, P.42).

Para Cordoso & Malerba (2000. p.131 ), a mulher tinha neste período um papel fundamental no que se referia a família e a sociedade. "A fêmea humana grávida era a metáfora central dos poderes da vida para povos que dependiam totalmente das forças espontâneas da terra a fim de juntar comida".


Na Idade Media, as mulheres camponesas trabalhavam muito: cuidavam das crianças, fiavam a lã, teciam e ajudavam a cultivar as terras. Aquelas com um nível social mais alto tinham uma rotina igualmente atribulada, pois administravam a gleba familiar quando seus maridos estavam fora, em luta contra os visinhos ou em cruzadas à Terra Santa. Atendimento aos doentes, educação as crianças também eram tarefas femininas. ( RÉGINE PERNOUD 1977.p.14)
Assim, ao longo da historia humana observa-se que em determinados períodos a mulher teve elevada importância e em outros participou como coadjuvante nos processos de desenvolvimento social, mais sempre esteve ao lado do homem quando não a sua frente, sempre buscando uma vida melhor para si a seus familiares.

June Hahner ( 1981. p. 15), estudando a historia da mulher, aponta que sua história foi facilitada em grande parte pela ascensão da história social e pelo interesse crescente pelos acontecimentos locais e pela vida familiar e cotidiana das pessoas.

A autora pondera que nos tempos atuais é possível fazer uma reflexão sobre a historia da mulher, por que nos últimos tempos está ocorrendo uma grande mudança nos hábitos e costumes do cotidiano feminino, onde elas estão participando mais e discutindo com maior profundidade a ralação homem/mulher e sua condição social.

Já Rachel Soihet (1978.p.278), aponta ser válido considerar que a ascensão feminina na história também se deve a história cultural que, nas últimas décadas do século XX, apostou em novas temáticas e se interessou por grupos sociais até então excluídos do seu interesse, entre eles as mulheres.

Trabalhando ainda nesse viés, são relevantes as ponderações de Michelle Perrot (1998.p.186) são bem apropriadas quando destaca que: “[...] o silêncio sobre a história das mulheres também advém do seu efetivo mutismo nas esferas políticas, por muito tempo privilegiadas como os locais exclusivos do poder”.

Assim no tecido do tempo atual existem uma diversidade nas condições em que vivem as mulheres, mais nenhuma é tão diversificada como a das mulheres que hoje participam de movimentos que envolvem as questões de Reforma Agrária. Onde intensas mudanças tem se processado nos últimos tempos em relação ao crescimento e qualificação dos grupos femininos.

Mulheres rurais e a reforma agrária

O crescimento de grupos de mulheres assentadas e o aparecimento de lideranças têm reafirmado o aprendizado das mulheres. Assim no processo de reforma agrária a mulher tem se destacado na busca de melhor qualidade de vida para si e para seus familiares. Esta busca tem propiciado a mulher assentada a buscar cada vez mais novas alternativas que proporcionem meios para o aumento de renda e maior estabilidade financeira, no espaço rural que lhe foi destinado.

Para Foucault ( 1994, p..21 ), a mulher assentada que já foi uma mulher acampada, é uma pessoa sofrida, que já teve uma trajetória de vida, mãe, religiosa, trabalhadora, que em situações adversas assume todos os compromissos da propriedade familiar rural. A mulher assentada participa ativamente de todos os acontecimentos relativos ao seu habitat conquistado. Esta realidade se processa nestes espaços rurais pelos as mais diversos motivos entre os quais podemos destacar, fim de relação conjugal, viuvez, trabalho externo do cônjuge.
Neste sentido Borges (1997,p132 ), com base em relatos, sustenta que algumas características comuns definem o perfil destas mulheres que participam desta população nestes espaços rurais.


“ há um traço comum que lhes confere uma identidade enquanto grupo – o nascimento na terra, o trabalho na terra, a peregrinação por outras terras, a expulsão da terra, a vida na cidade e a volta a terra, onde era o seu lugar “.


Esta experiência da mulher vivida em diferentes estágios, faz com ela tenha dinamismo frente as dificuldades do cotidiano nas áreas de assentamentos. Assim, nos assentamentos rurais as mulheres são mais instruídas que os homens, após a chegada no assentamento, elas continuam a buscar cada vez mais instrução. Trata-se de uma regularidade: as mães estudaram mais que os pais, e as filhas estudaram ou estão estudando mais que os filhos. Desta forma, na grande maioria dos assentamentos, as filhas são mais escolarizadas que as mães, esta particularidade contribui para através da instrução em uma transformação dos espaços rurais onde vivem.

O processo de reforma agrária da região das missões no Rio Grande do Sul, assume grande relevância na medida em que nas ultimas duas décadas já somam-se 49 assentamentos rurais neste região e neles esta se constituindo um considerável numero de mulheres, sendo que em alguns assentamentos os grupos femininos são superiores aos dos homens, e em todos eles a atividade feminina é tida como de muita importância para a estruturação e desenvolvimento local.

Nos assentamentos do município de Capão do Cipó, esta realidade não é diferente, as mulheres estão buscando cada vez mais ocuparem espaços, participar do processo produtivo, social e econômico. Para isto buscam qualificar-se e empreender práticas diversificadas que possibilitem o aumento de renda e a agregação de valores em seus produtos.


Método de Trabalho

As oficinas foram oferecidas a dois grupos de mulheres com idades entre 16 e 55 anos, formados por moradoras dos assentamentos da reforma agrária do município de Capão do Cipó, com cerca de 20 participantes cada grupo. Estes grupos foram coordenados por um professor da Escola Estadual Chico Mendes localizada no interior do assentamento Sepé Tiarajú. As oficinas contaram também com a experiência de uma professora em artesanato da cidade de Santiago. Os encontros aconteceram as terças e quintas feiras e tinham duração de 8 horas cada um, durante três meses, totalizando 24 oficinas, sendo doze oficinas com cada grupo constituído. Em cada uma destas oficinas foi trabalhado temas através de palestras e diálogos, sobre a terapia ocupacional, a gradativa orientação sobre a preparação de material para confecção de peças artesanais com jornais e a confecção de peças artesanais com jornais, (constituição da peça, acabamento e pintura). Foram trabalhados também a importância do artesanato em jornal como fonte de renda alternativa (vendas de peças individuais, vendas coletivas, participação em feiras e eventos rurais).

Nos encontros aconteceram palestras, troca de experiências e orientações sobre a confecção de peças de artesanato, sendo que estes encontros ocorreram na Escola Estadual Chico Mendes e começavam por cerca de 9 hs e finalizavam as 17 hs; neles, cada uma das participantes trazia algum item alimentar previamente combinado onde era confeccionado um almoço partilhado, sendo que na ultima oficina foi realizada uma festa de encerramento que contou com a presença de todos os participantes e convidados.

Resultados e Discussão

Após um período de divulgação de que na Escola Chico Mendes do Assentamento Sepé Tiaraju iria acontecer oficinas de artesanato, começou uma intensa procura por informações, como, quanto custa, que tempo leva, que horas vai ser.

Esta procura resultou na organização de dois grupos, levando-se em consideração o assentamento em que moravam, sua disposição e interesse. Assim foi marcado o inicio do curso para o primeiro grupo e orientado às participantes de que material deveriam possuir para o inicio da oficina. As vagas teriam que ser limitadas devido a falta de espaço e o tempo ser limitado.

Para a constituição dos grupos de assentadas foi necessário fazer uma inscrição previa devido ao grande numero de mulheres que queriam participar das oficinas. Assim ficou estabelecido a constituição de dois grupos de 20 mulheres cada um, que serviriam posteriormente como tutoras dos grupos que se formariam posteriormente.


Durante os encontros foi possível discutir alguns itens considerados importantes no processo de qualificação destas mulheres como por exemplo a importância de uma terapia ocupacional e a interatividade com as outras mulheres assentadas, item este muito bem aceito pelos grupos que chegaram mais recentemente aos assentamentos.


Para as mulheres assentadas teve muita importância discutir o cotidiano de cada assentamento que contou com relatos de mulheres sobre o histórico dos quatro assentamentos construídos no município, enfatizando aspectos relativos a produção e modo de vida. Destacou-se nestes grupos a diversidade de idade promovendo assim uma maior interação na medida em que as experiências tanto em relação ao período de acampamento, quanto de assentamento foram sendo relatadas durante os encontros.

O desenvolvimento da atividade artesanal foi realizado com muito sucesso na medida em que foram sendo constituídos os primeiros preparativos de cada grupo no sentido de desenvolver as habilidades para preparação do material que iria constituir as peças artesanais, centro de interesse das oficinas. O interesse de cada um dos participantes no aprendizado chamou a atenção na medida em que muitas das assentadas tiveram dificuldades iniciais devido terem as mãos rústicas do trabalho na terra, que aos poucos foram sendo superados pela vontade de aprender.


A chamada preparação do material se constituía em: com uma haste de metal (raio de bicicleta), fazer finíssimos canudos a partir de faixas cortadas de jornal usado, preparadas considerando o tamanho e formato da peça; sendo usado neste trabalho, tesouras para constituir as faixas de jornais previamente cortados, cola de papel para colar o final da constituição dos canudos.


De posse deste material, começa então a constituição da peça artesanal, que ao longo dos encontros iam tomando forma das mais diversas. Alguns componentes primavam por fazer pequenos porta cuias, outros por pequenas cestas, outros por cestos mais consistentes e desta forma surgiram as primeiras peças artesanais que trouxe emoção para muitas das participantes.

Durante o desenvolvimento das oficinas, foram confeccionados diversas peças artesanais por cada um dos participantes, que embora tenham começado de forma muito rústica, aos poucos foram tomando forma e se constituindo em belas peças artesanais ecologicamente produzidas.


A euforia que tomou conta do processo de produção das peças artesanais em papel jornal levou os participantes a buscar cada vez mais praticar sua confecção, assim elas confeccionavam peças em casa e traziam para serem observadas pela instrutora ou ainda corrigidas quando necessário.


Assim com o desenvolvimento das oficinas, alguns componentes de cada grupo destacavam-se e terminavam por auxiliar os demais juntamente com a instrutora. Esta experiência terminou por unir cada vez mais os grupos de mulheres que antes pouco se viam e algumas delas ate então não se conheciam.


Após este período de aprendizagem, os grupos foram reunidos para tratarem de uma exposição publica dos trabalhos. Foi feita uma explanação pelo coordenador de que todas deveriam participar de um evento que iria acontecer na sede do Município de Capão do Cipó, no Ginásio de esportes da escola Julio Biasi, quando lá estaria reunida toda a comunidade em torno da Amostra de trabalhos do Programa União faz a Vida que é desenvolvido por este município. Surgiram muitas duvidas, medos, incertezas e muitas não queriam ir por achar que não iria dar certo.
Assim, a proposta era montar um destacado estante neste evento onde seriam expostos todos os trabalhos e se houvessem interessados seriam então comercializadas as peças. O estande foi montado com antecedência e todas as participantes das oficinas estiveram presentes na montagem do local que aconteceu no dia anterior ao evento. No dia do acontecimento, que se realizou durante todo o dia de um sábado, elas estiveram presentes com seus familiares, (maridos, companheiros, filhos, parentes e amigos), que vieram prestigiar, há de se destacar que estas participantes bem como suas familiais moravam a mais de 15 Km do local do evento.
Durante todo o evento aconteceu uma intensa visitação ao estande de artesanato, foram vendidos cerca de 45% do estoque apresentado, a esposa do então prefeito realizou um contrato com algumas das artesãs para a confecção de peças que até os dias de hoje são fornecidas para loja desta proprietária no Capão do Cipó. Mais tarde vieram outros convites para participações em feiras como São Borja, Santiago e Itacurubi, além de participações em diversos eventos locais, que tem contato com o apoio do governo municipal. Assim, aconteceram as primeiras vendas de peças artesanais confeccionadas a partir de papel jornal.



CONSIDERAÇÕES FINAIS



A experiência de oficinas de artesanato em papel jornal para mulheres dos assentamentos da reforma agrária do Capão do Cipó na região missioneira do estado Rio Grande do Sul, se constitui em uma experiência impar e de uma importância jamais antes alcançada. A medida em que esta atividade proposta ganhou importância e passou a figurar como uma importante ferramenta no desenvolvimento da auto estima destas mulheres, que encontraram no trabalho artesanal forma de participação social e com isto passaram a tomar gosto por se produzirem mais, de obter renda com este trabalho que evoluiu e passou a figurar como importante fonte de renda de diversas famílias. Percebe-se, também, o fato de que muitas destas mulheres estão hoje ministrando cursos de artesanato para outros grupos dos assentamentos e fora dos assentamentos. Sendo estas ultima uma atividade que vem sendo desenvolvida a convite da secretaria de ação social do município que passou a ter nesta experiência uma de suas metas de trabalho no campo municipal.
Constitui-se assim, a partir desta experiência, alguns grupos de trabalho e grupos de convivência e com eles tem surgido novas idéias de valorização e qualificação das mulheres no Capão do Cipó.

REFERENCIAS

CARDOSO,. Ciro Flamarion e MALERBA Jurandir (orgs.) “Representações: Contribuição a um debate transdiciplinar. Campinas , SP: Papiro Editora, 2000 – (Coleção texto do Tempo).

BORGES, Maria Stela Lemos. Terra, ponto de partida, ponto de chegada: identidade e luta pela terra. São Paulo: Anita Garibaldi, 1997.

FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder, 10ª ed., Rio de Janeiro: Ed. Graal, 1994.

HILÁRIO Franco Júnior, & CHACON, Paulo Pan. História Econômica Geral. São Paulo: Atlas, 1986.

HAHNER, June E. A Mulher Brasileira e suas lutas sociais e políticas: 1850-1937. São Paulo: Brasiliense, 1981, p. 14.
Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária. INCRA. 2009
Núcleo Interdisciplinar de Estudos e Pesquisa sobre Alimentação e Sociedade – NEPALS. 2009

RÉGINE PERNOUD , “O Mito da Idade Média”,(Edições Europa-América,), com o título original “Pour en finir avec la Moyen Âge” (Seuil, 1977).

PERROT, Michelle. Os excluídos da história: operários, mulheres e prisioneiros. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1998, p. 185.

SOIHET, Rachel. História das Mulheres. In: CARDOSO, Ciro Flamarion.; VAINFAS, Ronaldo.(Orgs.). Domínios da história. Rio de Janeiro: Editora Campus, 1997, p. 275.


Vilson Flores dos Santos
Mestre em Extensão Rural (PPGExR UFSM)

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Relato de Experiência no Projeto Diversificar- Cachoeira do Sul/RS


Gustavo- Charqueadas- Perto da cidade; Luis Freo e família- Bosque



Ivo Viegas- Localidade Bosque: Hildo Aires da Rosa- Cerrito

Martin - Tecnólogo em Agropecuária (UERGS); Maria Loreni- Bosque

Minha experiência com a agricultura familiar iniciou-se com meu estágio na Cooperativa Agrícola Mista General Osório- Cotribá através de ações extensionistas de visita de assistência técnica as lavouras de monoculturas, posteriormente atuando como auxiliar administrativo da mesma, mas meu contato com os agricultores familiares durante todo período de colaborador foi insignificante, fato que me deixou muito frustrado, pois a cooperativa é mais uma empresa voltada para o agronegócio e para venda de insumos para as lavouras que visam apenas lucros às multinacionais e favorecimento dos seus gestores e fornecedores, não contemplando o cooperativismo que visa benefícios a todos os associados, por que essas práticas nunca visaram uma sustentabilidade ambiental e nem econômica dos agricultores. Atualmente incentivadas pela a cultura da soja e do fumo várias empresas estão migrando para a região que oferecem a venda de um pacote tecnológico e assistência técnica gratuita, ações desse cunho por parte estatal inexiste e as poucas são destinadas a alguns privilegiados, muitas vezes, com condições financeiras favoráveis para esse fim.

Estando dentro da universidade como acadêmicos sempre tivemos na ponta da língua os conceitos bem definidos que permeavam a agricultura familiar baseados em autores que definiam seu conceito e sua importância, que é a principal responsável pelo abastecimento de alimentos no país com sua produção diversificada. Entretanto a agricultura familiar na região de Cachoeira apresenta várias características devido à grande extensão de área do município que estão inseridas as localidades que se encontram as famílias dos agricultores, essas particularidades determinam várias tipificações devido às etnias e as atividades desenvolvidas.

Na região Sul do município, nas localidades entorno da BR 290 e no seu interior, a agricultura familiar está representada por um pequeno número de famílias, pois a maioria dos chefes de famílias trabalham nas lavouras de soja e arroz e nas fazendas voltadas para a pecuária como empregados, com isso não tem a cultura de cultivar/produzir alimentos para seu consumo nas propriedades, sendo necessário a compra de alimentos como hortaliças dos ônibus ambulantes ou até mesmo do quilombo que existe nessa localidade. Os chefes de famílias oferecem mão de obra que é utilizada pela agricultura patronal, devido a distância muitos justificam a opção de não produzir hortaliças, pois não tem como escoar a produção.
Em torno da cidade apresenta várias famílias que cultivam hortaliças e leite para venda direta aos consumidores via feira livre ou em mercados e armazéns, no caso do leite as condições são precárias tanto na questão de sanidade animal e condições de infra- estrutura de instalações, porém ainda é uma forma de ganho dos agricultores e complemento da renda. Na região Norte, nas localidades em torno da BR 153 e no seu interior encontra-se uma grande quantidade de produtores de fumo como principal cultura de ganhos econômicos, pouca diversificação de produção de alimentos, sendo destacada uma grande diversificação de culturas nas propriedades de agricultores descendentes de alemães e italianos.
A grande maioria destes agricultores criam animais de pequeno porte e cultivam a terra com animais de tração, a venda de alimentos e animais e os trocam; trocas são práticas comuns entre eles, também se utilizam de empregados safristas que determina outra classe definida no município que também sustentam muitas famílias permanecendo no interior de Cachoeira do Sul, alguns já tem maquinários adaptados a agricultura familiar como pequenos tratores financiados via financiamentos do PRONAF. Minhas conclusões são baseadas nas minhas visitas de assistência técnica do projeto de ATER que participo denominado DIVERSIFICAR, esse projeto é feito em parceria com o SEBRAE, COOPERTEC-SC, FETRAF-SUL e MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO-MDA, que contemplam os três estados do sul com 135 técnicos que atenderão 13.500 famílias, nessa primeira fase será de diagnóstico das propriedades e a segunda fase será de desenvolvimento de projetos para as unidades de referências, atuo como técnico de ATER no município, sobre a supervisão de um consultor do MDA.

Além das minhas atividades, o projeto oferece oficinas e treinamentos aos técnicos. Os principais entraves dos projetos são: a) o não entendimento dos dirigentes da entidade de classe que oferece apoio em Cachoeira do Sul do projeto; b) os mandos e desmandos da coordenação do mesmo. Há um consenso entre dos diretores que com a nova lei de ATER assinada pelo o Presidente que esse projeto possa continuar por mais tempo, mais ainda é cedo para tirar conclusões. Porém para mim a experiência esta sendo válida em todos os setores sendo ambos, o profissional e pessoal, mudei vários conceitos sobre a agricultura, além de aprender muito com os agricultores nas relações interpessoais, com certeza essa oportunidade está contribuindo em muito na minha formação como Tecnólogo em Agropecuária e futuro Extensionista, ou seja, está sendo muito gratificante porque no campo que está a realidade nua e crua.

Martin Alencar da Rosa Dorneles
Tecnólogo em Agropecuária – UERGS
CREA RS 162135

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Pesquisadores do Nepals são convidados para publicar na Revista do IICA

O Professor do Departamento de Educação Agrícola e Extensão Rural (DEAER) e coordenador do Nepals, Paulo Roberto Cardoso da Silveira juntamente com a Professora Gisele Martins Guimarães da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS Cachoeira do Sul) e integrante do Nepals receberam convite para a publicação de seu artigo muito repercutido no meio acadêmico intitulado: Por trás da falsa homogeneidade do termo agroindústria familiar rural: indefinição conceitual e incoerências das políticas públicas.
O convite foi realizado pelo Instituto Interamericano para a Cooperação da Agricultura, organismo de OEA. Sua publicação vai ser indexada a Revista “Informe Agronegócio” editada semestralmente. A divulgação será na edição Nº 7 que será propalada nos 34 países que conformam o Instituto nas Américas.
O convite foi realizado por Marco Ortega Berenguer, Representação do IICA no Brasil. Segundo ele: “Tivemos conhecimento importante artigo em nossas constantes pesquisas em busca de material de qualidade para divulgar em nossa revista”.
Isso somente demonstra a qualidade e seriedade dos pesquisadores do grupo que são atores responsáveis pelo desenvolvimento intelectual da sociedade, como um todo.