Nepals pergunta a Paulo Roberto Cardoso da Silveira:
Nepals: O que você fez?
Paulo Silveira: Minha atuação como extensionista tem raiz na extensão rural, quando participei como técnico da COSUEL, Cooperativa responsável pelos produtos DALIA, no início da década de 90; como participante de um programa de qualificação da produção leiteira, pude me identificar com a extensão rural; o mestrado na década de 90 me aproximou ainda mais desta área e fui me vinculando cada vez mais a extensão rural.
Como professor na URI em 1995 e 1996, coordenei um núcleo de desenvolvimento regional integrado, onde busquei junto com os colegas aproximar a comunidade universitária da população regional; ingressando na UFSM em outubro de 2006, logo iniciei projetos junto a municípios de nossa região, sempre vinculando a atividade de extensão ao ensino da extensão rural.estes projetos contribuíram para estreitar os laços da UFSM com a comunidade regional, me propiciaram conhecer a realidade regional tão importante para alimentar nossa prática docente.
Solenidade de entrega do Prêmio
Em 1998, o CCR teve a demanda de adentrar na temática da agroindústria familiar, onde tive a oportunidade de coordenar projeto de extensão junto ao projeto esperança/co-esperança, envolvendo a formação de agricultores e agentes de desenvolvimento, bem como, debates sobre a legislação sanitária e a elaboração de projetos de agroindústrias, tentando com a equipe que coordenava adequar estes empreendimentos aos cânones da legislação vigente; era o período do Governo Olivio Dutra e se desenvolvia o programa Sabor Gaúcho, o qual acompanhei junto ao comitê regional; este programa visava fortalecer as agroindústrias familiares, através de ações de apoio técnico, comercialização, formação e crédito para investimento em instalações e equipamentos.
Em 2000, ganha a eleição em Santa Maria, o Partido dos Trabalhadores e sou convidado pelo prefeito Valdeci Oliveira para assumir a secretaria de desenvolvimento rural, a partir de janeiro de 2001, ficando até março de 2004, quando me candidatei a vereador. Neste período cresci muito profissionalmente, aliando a prática de gestor com o planejamento e a atividade extensionista, construindo de forma participativa um conjunto de políticas públicas de caráter inovador, pois todas contemplavam cinco eixos: ATER, Credito,organização, formação e comercialização.de volta a Universidade, fui me dedicar ao doutorado no Programa Interdisciplinar em Ciências Humanas da UFSC, onde defendi tese sobre aos produtos processados orgânicos e a comensalidade contemporânea.
Paulo Silveira recebendo a distinção
Tive por força da tese, afastado da extensão, mesmo assim, durante este período já me envolvi em atividades de campo, o que me revigorava; em 2007, inicia uma discussão sobre um projeto de assessoria ao INCRA na área de agroindústrias nos assentamentos, o que se concretiza com o programa SOMAR, efetivado de 2009 a 2012. Neste programa, mergulhamos na realidade dos assentamentos de reforma agrária, onde propiciou um aprendizado enorme no enfrentamento dos limites do INCRA como gestor de políticas públicas e no processo de formação continuado que desenvolvemos junto aos assentados. Durante estes três anos interagimos com a realidade dos assentamentos e contribuímos para a viabilização dos empreendimentos dedicados ao processamento das matérias-primas agrícolas.
Neste período do SOMAR, não nos focamos somente nestas ações que eram estabelecidas no convênio, sendo que outros projetos passam a serem gestados. Neste momento, surgem as escolas rurais como público estratégico, pois representam um espaço educativo e de transformação da vida comunitária. Assim, inicia-se um trabalho junto a escola Chico Mendes inserida no assentamento Sepé Tiarajú em Capão do Cipó, onde desenvolvemos um conjunto de atividades que visam despertar a comunidade escolar para práticas ecológicas de produção e estimular novas atividades produtivas. Assim, investe-se em oficinas que trabalham a questão da erosão da cultura alimentar, associando alimentação adequada, hábitos e práticas alimentares, com a horta, a produção de húmus de minhoca, um quintal orgânico que contempla frutíferas comerciais e nativas, milho crioulo e estufa para familiaridade com cultivo de plástico.
Outro trabalho que merece relevância é a integração ensino-extensão, onde desenvolve-se ações em Alegria, Jaguari e Santana do Livramento, além de Capão do Cipó, sendo que em Alegria iniciamos no mês de novembro um curso de extensão “gestão rural sustentável”, envolvendo alunos de ensino médio e agricultores, o qual deve envolver 24 módulos.
Equipe Nepals com Paulo Silveira
Nepals: Como você percebe a importância da ação universitária extensionista?
Paulo Silveira: Acho fundamental a extensão universitária, pois ela faz com que os docentes não fiquem alheios a realidade social, evitando que se encerrem em seus gabinetes com suas pesquisas. Também a extensão tem a função de qualificar o ensino, criando espaços de aprendizagem fora da sala de aula, viabilizando a interação entre os conteúdos desenvolvidos e a sua aplicação.
Nepals: Momento palavra de Silveira: O que você gostaria de dizer nesse momento?
Paulo Silveira: Queria dizer que este prêmio Mérito Extensionista é um reconhecimento de meu esforço e dedicação as atividades de extensão, apesar de não alterar em nada as condições que temos para realizá-las e não mudar meu sentimento de satisfação de realizá-las.Elas continuam sendo minha opção e meu compromisso.