domingo, 3 de julho de 2011

Primeira oficina de segurança alimentar em Capão do Cipó/RS

No dia 29 de Junho, foi realizada no assentamento Sepé Tiarajú, localizado no município de Capão do Cipó/RS, a oficina piloto referente ao projeto O desafio da Erosão Cultural Alimentar: ações de aprendizado social nas escolas urbanas e rurais da região central do RS, coordenado pelo prof. Paulo Silveira. No dia houve também uma explanação sobre Programa Nacional de Alimentação Escolar – PNAE para os secretário da agricultura do município e as professoras da escola Chico Mendes.

Pela parte da manhã, a acadêmica Isabel do curso de Agronomia da UFSM, tratou de sanar as dúvidas sobre o PNAE em reunião com a equipe da secretaria da agricultura do município e durante a tarde na escola explanou sobre o programa discutindo as estratégias de ação com as professoras. A escola está tentando buscar informações de como comprar a merenda escolar da agricultura familiar, mas sente dificuldade em função da falta informação sobre como proceder, foi importante a explanação da Isabel no sentido de nortear as próximas ações para efetivar a compra da merenda escolar da agricultura familiar e preferencialmente absorver a produção de produtores do assentamentos de Capão do Cipó, que possui quatro assentamentos.

A oficina coordenada pela mestranda em Extensão Rural Tânise Pedron foi realizada com as professoras da escola Chico Mendes, e teve como meta conhecer melhor os alimentos que compõe a dieta nas suas residências, buscando problematizar com a dieta equilibrada sugerida pela pirâmide alimentar, e compreender qual o motivo que impede que as professoras da escola sigam as recomendações de um dieta saudável.

Alimentos básicos como arroz, feijão, batata, abóbora e ovos foram citados como básicos, ao lado de bolachas, sucos, iogurte, e cereais industrializados. Paralelo à isso, é importante destacar que todas as professoras presentes na oficina relatam sobre as antigas estratégias de alcance e preparo de alimentos, e que foram abandonadas pela “falta de tempo”, uma vez que o tempo-trabalho exige longos períodos fora de casa. Segundo elas “a vida moderna não permite uma alimentação saudável, e acabamos comendo qualquer coisa”. Com isso, o cuidado com as hortas, com os pomares e a participação nas feiras locais perderam a prioridade na rotina das professoras, e a diversidade que esses espaços de produção doméstica apresentavam à dieta diária das famílias foi se perdendo, em prol de uma vida moderna. Através dessa oficina foi possível organizar uma pirâmide alimentar dentro da realidade das professoras da escola, a qual será entregue à elas no próximo encontro, a ser realizado em agosto.

Concomitante a este momento, durante a tarde, também foi trabalhado com 23 alunos presentes na escola. A Tecnóloga em Agroindústria Fernanda Venturini, trabalhou com os alunos do 1º ao 6º ano, também fazendo um levantamento com as crianças, de forma bem didática, com o objetivo de compreender a dieta alimentar dos alunos e quais os alimentos existem em suas mesas nas refeições do café da manhã, almoço, lanche escolar e jantar. Foi abordada também a questão da alimentação industrializada em detrimento da natural relacionando aos aspectos de saúde das crianças que possuem uma freqüência mediana a hospitais da região, por vários fatores, numa observação superficial pode-se dizer que isto dá principalmente em função da alimentação não ser muito balanceada. Pelo levantamento, a base da alimentação é arroz, feijão, mandioca, batata, ovos e poucas frutas e hortaliças. É uma alimentação rica em carboidratos e pobre em vitaminas e minerais. Existem alguns casos de anemia na escola. A partir deste levantamento com a comunidade da escolar temos um quadro da realidade alimentar do assentamento Sepé Tiarajú, estes dados são a base para as próximas oficinas onde trabalharemos mais focados na realidade local. Assim em todas as escolas onde o projeto será desenvolvido se parte do mesmo princípio inicial, levantar a realidade da dieta alimentar para entendimento e posteriormente trabalhar esta realidade junto com a comunidade escolar.

Com tal resultado foi possível fazer uma discussão sobre como os hábitos e os costumes da modernidade urbana, que estão envolvendo os espaços dos assentamentos de reforma agrária. Sendo que estes espaços de assentamentos são marcados por um modo de vida específico, que interpreta a realidade social diferente do que está determinado pela sociedade. Os assentamentos de reforma agrária, possuem “problemas e demandas específicos, relacionada ao processo de reforma agrária, que os diferencia do conjunto dos agricultores familiares” (CAUME, p. 2006, p. 59).

Por esses motivos, é curioso investigar a problemática da (in)segurança alimentar nos espaços de assentamentos, uma vez que os assentados saíram do campo, tiveram uma vivência no urbano e voltaram ao rural, a princípio com uma compreensão da autonomia alimentar que independe de outras dimensões, garantindo a segurança alimentar equilibrada e diversa.

Bibliografia

CAUME, David José. O MST e os assentamentos de reforma agrária: a construção de espaços modelares. Passo Fundo: Ed. Universidade de Passo Fundo: Goiânia: Ed. da Universidade Federal de Goiás, 2006. 304p.

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