quarta-feira, 18 de maio de 2011

Algumas Considerações do 1º Seminário sobre Erosão Cultural Aimentar


Aconteceu na última quinta feira, dia 12 de Maio, o 1º Seminário sobre Erosão Cultural Alimentar e segundo encontro do NEPALS, reunindo membros do NEPALS e convidados, buscando dar uma abordagem teórica a um tema relevante para análise da alimentação contemporânea, proporcionando um olhar diferenciado sobre a relação entre as transformações dos hábitos e práticas alimentares e o patrimônio cultural dos grupos sociais rurais. Com o foco no rural e, fundamentalmente, nos agricultores familiares, objetivou-se estabelecer um processo de discussão que embase o planejamento de ações conjuntas de pesquisa e extensão junto à comunidade regional, envolvendo a UFSM, o Institututo federal farroupilha, campus de São Vicente do Sul e Julio de Castilhos, a EMATER-RS e o Grupo de Agroecologia Terra Sul- GATS.

O seminário iniciou com a exposição da Mestre em Extensão Rural Tatiana Balen, profª do IFF-Campus de Julio de Castilhos, resgatando o conceito estabelecido em 2005, em artigo publicado em co-autoria com o prof. Paulo Silveira, de Erosão Cultural Alimentar, como processo de perda gradativa do patrimônio cultural gastronômico das comunidades rurais, através da adoção de um padrão alimentar cada vez mais urbano e homogêneo. Tal erosão tem levado a mudanças nos hábitos e práticas alimentares e o conseqüente empobrecimento da dieta. Segundo Balen, como conseqüência do processo de globalização da vida social, vivemos uma cibernetização no meio rural e, assim, os agricultores estão tão urbanizados ao ponto de envergonharem de ofertar nas suas mesas alimentos que produzem e adotarem uma alimentação industrializada em detrimento de uma alimentação mais natural.

A palestrante colocou em discussão o PAA – Programa de Aquisição de Alimentos, onde o governo federal, através da CONAB adquire alimentos diretamente dos agricultores familiares e o PNAE – Programa Nacional de Alimentação Escolar, o qual define que 30% da demanda de estados e municípios deve ser atendida por produtos da agricultura familiar locais ou regionais. Para Balen, questiona-se até que ponto os produtores estão preparados para produzir alimentos requeridos por estes programas, já que cada vez mais tornam-se especializados em produzir comodities e tem abandonado a produção de alimentos para família. Alerta a expositora que tal carência de oferta pode trazer outro efeito perverso, caso de agricultores que se organizem para produzir objetivando o fornecimento para estes programas, centrando seu esforço em um alimento ou outro, sem significar melhoria na disponibilidade de alimentos para dieta familiar e nem uma diversificação da produção.

No debate, fica claro que ao longo da história da assistência técnica e extensão rural, os produtores foram estimulados a produzir o que era mais rentável e abandonar a diversificação de cultivos e criações, dando preferência para culturas com ‘mercado’ garantido como arroz, soja, suíno, aves, etc... Estes programas mencionados acima trazem uma possibilidade de renda para estas famílias, mas a problemática real é a dinâmica da agricultura familiar, cada vez mais voltada a abastecer as cadeias agroalimentares.


Alguns pontos importantes:

O [a]culturamento alimentar

Retoma-se alguns eixos como o do desenvolvimento local, onde a cultura tradicional alimentar tem sido considerada como um atraso, pois manter alguns hábitos culturais nos dias atuais não permitiria desenvolver-se tecnologicamente! Mas o prof. Paulo Silveira questiona quem é mais atrasado: o tradicional que é mais adaptado ao meio ou o tecnológico, colocado como moderno, que é fator de erosão agroecossistêmica e cultural?

Desenvolvimento sustentável segundo as nações unidas é a capacidade de suprir as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade de atender as necessidades das futuras gerações. É o desenvolvimento que não esgota os recursos para o futuro.

É importante preservar a cultura alimentar como um recurso para o futuro, é neste sentido que se discute a homogeneização, a padronização, onde a ‘moda’ é ser igual, é in; o ‘ser diferente’, o ‘cultuar antigos hábitos’ , é out.

A participação da Emater compartilhando experiências vivenciadas pelas assistentes técnicas regionais Ângela Pereira e Marilene Ferreira no processo de resgate da cultura alimentar acrescentou a uma discussão teórica o cunho realista e prático, mostrando exatamente o quanto a cultura alimentar está se perdendo com a modernização, embora algumas etnias exaltem sua gastronomia, algumas práticas alimentares já não fazem mais parte de seus hábitos cotidianos.

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